“O fascismo ucraniano e o nacionalismo da extrema-direita são políticas impostas pelo Ocidente Europeu”, diz Dmitry Kolalevich

Entrevista com Dmitry Kolalevich, da organização comunista ucraniana “Borotba” (Resistência), para Panagiotis Tselepis, membro do OKDE-Spartakos. Concedida em 14 de fevereiro de 2022. Mesmo tendo sido feita anes da invasão da Rússia na Ucrânia, para além das questões conjunturais, o depoimento de Kolalevich contém informações fundamentais para a compreensão do contexto histórico-estrutural, externo e interno, que condiciona a guerra e a luta de classes na Ucrânia. Kolalevich caracteriza o papel estratégico dos Estados Unidos no conflito, a complexa relação da Rússia com a Ucrânia, a importância geopolítica do controle da Ucrânia no xadrez pelo controle da economia mundial, a natureza ultrarracionária do Estado ucraniano, a extrema fraqueza de Zelescky como chefe de Estado, bem como a elevada vulnerabilidade da classe trabalhadora ucraniana.

Link original: https://www.okde.org/index.php/en/apopseis/949-interview-with-dmitrykovalevich-from-the-ukrainian-communist-organization-borotba-struggle-to-panagiotis-tselepismember-of-okde-spartakos-held-on-14-february-2022

P.T.: Qual é a razão para a atual crise na Ucrânia? Putin quer invadir? Se ele quer isso, por que ainda não ameaçou fazê-lo após as forças armadas ucranianas sofrerem uma derrota na batalha em Ilovaisk e uma parte considerável das tropas ucranianas, incluindo o notório exército nazista AzP.T.: ov e o batalhão de extrema-direita, ter sido cercada em agosto de 2014? Ao invés de aproveitar-se desta situação, Putin interveio, salvou as tropas ucranianas e garantiu sua passagem livre

D.K.: Não consigo afirmar sobre as razões e motivações de Putin. Podemos apenas adivinhar. Alguns especialistas acreditam que a Ucrânia facilitou uma guerra contra Donbass. E Kiev começou uma investida naquela região. As tropas ucranianas lá eram muito mais numerosas que as tropas russas, porque entre 70 e 80% das tropas ucranianas estavam concentradas em Donbass, deixando praticamente toda a fronteira com a Rússia e a Bielorrússia desprotegida. Em 2014, o golpe chamado de “Euromaidan” aconteceu durante as Olimpíadas [de inverno] da Rússia em Socchi. Em fevereiro de 2014 os nacionalistas ucranianos estavam com pressa para completar [o golpe] antes do fim das Olimpíadas, enquanto os Russos tinham recursos restritos para combater o conflito. Agora estão acontecendo as Olimpíadas de inverno na China, que é um parceiro próximo da Rússia. A mídia ocidental alega que os russos devem finalmente invadir nesta semana, antes do fim das Olimpíadas, forçando Kiev a começar uma provocação antes do dia 20 de fevereiro. Os Russos continuam a afirmar que não vão invadir. Eles dizem que estas discussões sobre a Ucrânia são uma forma de deslocar a atenção das demandas russas sobre o sistema de segurança internacional, pedindo uma garantia de que a OTAN não vai mais expandir-se. Os mais altos militares russos dizem que o Ocidente está enrolando para dar uma resposta à Rússia, enquanto foca em problemas que não são prioridade para os russos, como o caso da crise Ucraniana. Os Russos dizem que não estão interessados em ocupar a Ucrânia. No entanto, os EUA e o Reino Unido beneficiam-se do pânico cultivado pela mídia, primeiro, por consolidarem relações com seus aliados europeus; segundo, por fazerem com que o capital voe da Ucrânia e do leste europeu para apoiar as economias norte-americana e inglesas; e, terceiro, criando uma barreira para as rotas de comércio chinesas. Na semana passada, Yegor Chernnev, o Chairman da Delegação Permanente da Ucrânia na Otan, afirmou que “os EUA estão conduzindo uma das maiores operações espaciais informacionais na história da luta contra a Rússia, com o objetivo de ‘demonizar a federação russa’ e ‘causar grandes perdas para a economia russa sem uma guerra’, com o objetivo de ‘finalmente tirar o presidente Vladimir Putin da Europa e tornar impossível a criação de um espaço Euroasiático desde Vladivostok até Lisboa, como é o projeto global da China de “One Belt, One Road”’. 

P.T.: Qual é a razão para esta intensa mobilização das tropas russas próximo à fronteira com a Ucrânia? Considerando a presença das tropas da OTAN nas fronteiras russas e a demanda de que a Ucrânia não seja admitida na OTAN ou, mais que isso, de que a OTAN se limite ao seu tamanho de 1997, fazendo valer a promessa dos EUA nos anos 1990 de que a OTAN não iria se expandir para o leste europeu, como eles de fato fizeram? Se é isso, por que a liderança do Kremlin decidiu pedir algo que é muito improvável de ser aceito agora e não antes, quando o regime em Kiev era fraco e seu armamento era irrisório? Alguns analistas afirmam que se trata de uma resposta a alguns problemas domésticos de Putin, tal como sua perda de popularidade, mas penso que esta é uma explicação inadequada para isso.

D.K.: O regime de Kiev não está nada fraco, comparado a como era em 2014 quando os russos poderiam ter tomado todo o país. As tropas ucranianas foram treinadas e abastecidas pelo Ocidente, no entanto, de fato, somente 10% delas (de extrema-direita e nacionalistas) foram acionadas até agora. Os russos perceberam que a Ucrânia é um fardo para a sua economia. Penso que, no que diz respeito à provocação de Kiev com relação a Donbass, os russos vão agir como fizeram na Georgia em 2008: atacar algumas tropas e bases militares e depois recuar. A mobilização atual representa muito mais um alerta contra provocações. É por isso que os EUA e o Reino Unido estão insistindo tanto para que Moscou retire suas tropas das regiões ocidentais da Rússia, porque Kiev está com medo de um ataque a Donbass. Kiev esteve sonhando por anos com uma repetição da operação croata contra os separatistas sérvios em 1995 (a operação Oluja), preparando-se para tal operação. Em 1995, a Sérvia foi convencida a não atacar através de ameaças de sanções. O que fez os russos avançarem para o Oeste? Em 2014, de acordo com alguns analistas, a visita do presidente da Suíça fez Putin não interferir. A Suíça é o Banco de Aço do Game of Thrones. Mas nos oito anos seguintes a Rússia foi deixando sua economia menos dependente dos dólares e dos bancos ocidentais, substituindo os produtos importados por produtos e serviços nacionais. Eles também promoveram cooperações com países não ocidentais, como a índia, a China, a América Latina e países africanos, para não ficarem isolados. Na atualidade, a Rússia geralmente fala em nome de todo o Terceiro Mundo contra o Primeiro Mundo em eventos das agências internacionais. Eles reduziram sua dependência dos bancos ocidentais, e a securitização de sua economia tornou-os mais confiantes. Mas isso requer tempo…. 

P.T.: O Kremlin tem a intenção de anexar as recém-proclamadas independentes repúblicas de Donetsk e Lugansk, assim como a mídia ocidental diz? Se sim, porque a Federação Russa ainda não reconheceu essas repúblicas ainda? 

D.K.: Não tenho certeza sobre a intenção deles em anexar essas repúblicas. Isso iria exigir muitos investimentos para a reconstrução de sua infraestrutura. Outro problema é que ambas as repúblicas reclamam todo o território de Donetsk e Lugansk, mas por enquanto elas só têm controle de metade destes territórios. Rússia, como muitas outras repúblicas pós-soviéticas do leste europeu, sofre de decrescimento populacional. Nos últimos anos, pessoas de províncias russas tenderam a migrar para grandes cidades e regiões ao sul (por exemplo, da Sibéria). Os russos não estão interessados em novos territórios (a Rússia é o maior país do mundo, aliás), mas sim em pessoas leais, imigrantes educados e força de trabalho qualificada. No limite, eles vão reconhecer as repúblicas como fizeram com Abkhazia e Ossétia do Norte e continuar auxiliando-as. 

P.T.: O governo norte-americano parece estar intransigente e já recusou as demandas russas. Ao mesmo tempo, enviou mais e mais armas ao exército ucraniano, afirmando que estará firme ao lado da Ucrânia e que, no entanto, se a Rússia a invadir, haverá reação com sanções graves, mas nenhuma ação militar direta. Isso não parece tranquilizador para o governo ucraniano e encorajador, para ser mais agressivo no front em Donbass? 

D.K.: O Ocidente apoia o governo ucraniano oferecendo armas, mas faz isso dando armas que já tiveram seus prazos de validade vencidos. Acredito que a decisão de atacar Donbass pode ser dada para além do presidente Zelensky, como resultado de nossa dependência. Pode ser que Zelensky acorde um dia e descubra que ele “ordenou” um ataque ofensivo. Os russos já estão fazendo piada com os EUA, porque identificaram que o comportamento de Washington é tipo um convite para a Rússia invadir a Ucrânia. Tem até uma piada que diz que os russos podem pedir mais dinheiro para os EUA para invadir a Ucrânia ou até pedir de volta o Alaska! 

P.T.: Quando Zelensky foi eleito como presidente da Ucrânia em maio de 2019, muitos ucranianos acreditavam que ele ia mudar a situação para melhor, pelo menos com relação à paz, democracia, direitos democráticos e economia. No entanto, depois de quase três anos, o governo dele falhou em diversos aspectos. A Ucrânia segue violando os acordos de Minsk, bombardeando Donbass regularmente, não há sinal de recuperação econômica, o Estado Ucraniano continua exercendo uma opressão massiva contra os partidos e organizações de esquerda, os quais foram colocados na ilegalidade, e mantém a retórica pós-Maidan e ultranacionalista e a glorificação do colaborador nazista Stephan Bandera, que é oficialmente reconhecido como herói nacional, desde o golpe em Kiev em 2014. Por que Zelensky falhou tão profundamente em manter e fazer cumprir suas promessas pré-eleitorais? É somente uma questão de falsas promessas ou ele não teve meios para reformar o aparelho de Estado, em que as posições-chave são aquelas mantidas pelos ultradireitistas e nazistas, e seguir uma política diferente no contexto de uma orientação pró-Ocidente? 

D.K.: Ele percebeu que a ultradireita realmente tem poder e por ela foi ameaçado de lhe tirarem da presidência caso não seguisse as políticas que já estavam em curso. Zelensky convenceu-se a seguir a mesma política depois que visitou o cabeça da inteligência britânica (Richard Moore). A política Ucraniana é decidida lá fora e há apenas uma competição interna para decidir quem vai executá-la, Zelensky ou Porosehnko. A dependência do governo de Kiev se parece de alguma maneira com a dependência do governo iraquiano e afegão sob a ocupação norte-americana. Zelensky também não pode decidir sobre questões econômicas devido à nossa extensa dívida de longo prazo. Ele é forçado a continuar as mesmas reformas neoliberais, com a liberdade para escolher somente as justificativas para elas. Isso também se repete com relação ao apoio aos neonazis e “Banderites”, sem os quais não haveria nenhum apoio à política pró-OTAN e às reformas neoliberais. Nas próximas eleições, os Ucranianos podem eleger uma atriz pornô ou uma pessoa declaradamente pró-soviética, mas essas pessoas não teriam poder real e seria tudo apenas conversa. Nos últimos anos na Ucrânia, tanto os mineradores quando estão exigindo que seus salários atrasados sejam pagos quanto os marinheiros quando querem cancelar as restrições aos seus trabalhos aglutinam-se em frente à embaixada norte-americana, porque sabem que o poder para decidir seus problemas encontra-se ali. Mesmo nossas autoridades locais, quando estão em conflito por dinheiro ou cargos na carreira na assembleia municipal, apelam para a embaixada norte-americana. Este é o motivo pelo qual a Rússia se recusa a conversar com Zelensky, afirmando que ele não decide nada e por isso só faz sentido falar com seus superiores. O cidadão ucraniano assiste à política ucraniana como se fosse uma espécie de reality show. 

P.T.: Qual o verdadeiro poder dos faquistas e da ultradireita na Ucrânia? A narrativa dominante na Europa ocidental é de que os fascistas são minoria e que sua representação no parlamento ucraniano caiu desde que o partido Svoboda chegou a 10% dos votos em 2012, mas que depois do Maidan caiu para 4,71% em 2014 e 2,15% em 2019, conseguindo apenas uma cadeira. Com relação aos fascistas nas tropas, eles são dispensados pois não têm apoio popular apesar de sua formação militar haver sido incorporada pela guarda nacional. O fascismo ainda é uma força a ser considerada na Ucrânia ou é apenas uma força marginal utilizada em certas circunstâncias? Nomeadamente, como tropas de ataque durante o golpe de Maidan e para combater na frente de Donbass? Qual o papel potencial e efetivo das organizações fascistas na Ucrânia? 

D.K.: O fascismo ucraniano e o nacionalismo da extrema-direita são políticas impostas pelo Ocidente Europeu para tornar os ucranianos inimigos dos Russos. Sendo assim, quase todos os políticos ucranianos tornaram-se adeptos deles e começaram a promover a ideologia “Banderite” e os mitos sobre o “ancestral Ariano”. Os grupos armados de extrema direita foram amplamente incorporadas à Guarda Nacional e ao exército, mas ainda possuem sua independência de alguma forma, tal como os Azov. Elas foram usadas em ataques contra a mídia de oposição ou contra pessoas comuns que ousaram falar contra a política atual. Este foi o caso de uma blogueira que começou a falar algo contra o nacionalismo. Desde então, as gangues passaram a perseguir, assediar, bater e finalmente fizeram com que ela emigrasse. Elas geralmente atacam as sedes dos partidos de oposição – como o terrorismo que fizeram contra os apoiadores de A. Sharij – ou os canais de TV que ousam dar espaço a críticas à política oficial. A Polícia e a Guarda Nacional geralmente ficam do lado delas, apenas olhando e prendendo seus oponentes. Por isso, o poder delas vem da violência e do apoio da polícia e do exército. Na sociedade, o apoio a elas não é muito grande e não está relacionado com a quantidade de votos. Com o objetivo de atacar a oposição, elas ainda organizam tipo um “circuito de viagens” – o mesmo grupo armado de nacionalistas de extrema-direita viaja de região por região, de cidade em cidade, fingindo assim estar por todo o país, mas é o mesmo grupo. Enquanto seus oponentes não estão organizados e caso eles ameacem se unir, serão inibidos pela polícia, que apenas os para e não permite que saiam com seus veículos e ônibus pelas regiões. 

P.T. Os EUA e a União Europeia já declararam que estão do lado da Ucrânia. A sociedade ucraniana está unida agora? Qual é a postura dos ucranianos frente a esta crise? Eles estão com medo da invasão russa? Eles estão dispostos a lutar? 

D.K. Os ucranianos nunca estiveram unidos em toda a história. Eles foram colocados junto pelos chamados “fundadores nacionais” de diversas origens e culturas. Sempre houve uma divisão interna, cultural, linguística, religiosa, etc. A política do Euromaidan é imposta pela burguesia e pelas elites – é rentável para elas ser  anti-Rússia e anticomunista, o Ocidente as paga para isso. Nossa classe trabalhadora tem migrado para trabalhar na Rússia ou na União Europeia. Os cidadãos comuns que permaneceram na Ucrânia não discutem política de jeito nenhum, pelo menos não de maneira pública. Mesmo agora, os rumores de uma possível invasão não provocaram nenhum efeito. Nossa propaganda nos diz há dois anos que estamos lutando contra uma invasão russa. Mesmo em comparação com 2014, agora não há sinais de uma preparação para guerra: sem bloqueios de estrada, sem marcha de militares, sem checagem de documentos – nada mudou no país desde o ano passado. As pessoas apenas lamentam sobre os preços e as altas tarifas, a falta de bons empregos ou o acesso ao sistema de saúde. Na narrativa pública não há conversas sobre a invasão da Rússia. Alguns veículos da mídia britânica gostam de publicar imagens de como os ucranianos estão sendo treinados para confrontar as invasões – essas imagens são geralmente encenadas apenas para os jornalistas do Ocidente. Os altos oficiais ligam para os oficiais das províncias pedindo que eles organizem este show para inspirar os jornalistas ocidentais e fazer com que o Ocidente dê mais dinheiro para a guerra na Ucrânia. Mesmo no caso de uma invasão russa real, não deve haver muita resistência, nosso batalhão neonazi vai preferir ir embora e migrar rapidamente. 

P.T. Qual é a situação dos ucranianos de esquerda depois que os partidos e as organizações de esquerda foram proibidos e começou a cruzada pela descomunização e pelo regime pós-Maidan em Kiev? Como os eventos afetaram o “Borotba” desde o golpe em Kiev seis anos atrás? A esquerda conseguirá recuperar-se?

 D.K. A esquerda ucraniana foi completamente expurgada da política legal. O partido comunista foi banido. O Borotba, banido. Ano passado, até um canal de TV, o 112.ua, foi banido depois de transmitir uma entrevista com o secretário geral do partido comunista, V. Simonenko. Muitas pessoas de esquerda migraram. Aqueles que ficaram, podem apenas se organizar em grupos de poucos camaradas em nível municipal ou de bairro. Atualmente, existe a “Frente de Trabalhadores da Ucrânia”, que une os antigos militantes do partido comunista e os sindicais. Grupos de esquerda ilegais atacam monumentos dos “Banderites” e de colaboradores neonazistas todos os dias, mesmo na Ucrânia ocidental, por isso as autoridades têm de protegê-las dia e noite. Eles imprimem e distribuem panfletos antifascistas. Alguns militantes atacaram neonazis conhecidos. Os ataques contra neonazis são mais constantes na Ucrânia do que na linha de frente em Donbass, ainda que ambos estejam lutando contra ataques antifascistas. No parlamento, o Partido “Plataforma de Oposição – Pela vida” tenta atuar como um partido socialdemocrata, criticando a OTAN, o neofascismo e as reformas neoliberais. Mas os EUA sancionaram seus líderes, alguns estão em julgamento na Ucrânia, acusados de traição, e toda sua participação na mídia foi banida também. Isso significa que nem os populistas sem noção da socialdemocracia podem sobreviver legalmente na Ucrânia de hoje. Existe somente um grupo pequeno e marginal de gente da esquerda liberal pró-União Europeia, como na “Oposição Esquerda” ou no “Movimento Social” – que se juntam com os nacionalistas ucranianos para mostrar à esquerda ocidental que eles existem, mas são apenas umas tantas pessoas. Os instrutores do Ocidente moldaram a forma do sistema político ucraniano, que ficou como um sistema de dois partidos que se revezam no poder. Ambos são pró-OTAN e neoliberais. 

P.T. Qual é a situação política em Donetsk e Lugansk (DNR e LNR)? Os líderes originais do grupo antifascista de 2014 se enfraqueceram, depois que muitas lideranças políticas militares foram assassinadas e as oligarquias continuaram seus trabalhados sem obstáculos? Algo sobrou daquele movimento antifascista e antioligárquico da revolta de 2014? Ou o Kremlin conseguiu manejar para controlar as duas repúblicas, uma vez que seu único apoio é a Rússia? Sobrou alguma influência de esquerda ali?

D.K. As forças armadas ucranianas reconheceram recentemente que eles assassinaram os líderes antifascistas que estavam surgindo em Donbass, inclusive Mozgovoi e Zakharchenko. No entanto, não sei se isso aconteceria sem o envolvimento das forças especiais ocidentais. A polícia oficial das repúblicas continuou a mesma, mas há menos instabilidade e menos iniciativa das pessoas. Muitos perceberam a desvantagem de uma guerra de baixa intensidade prolongada, sem grandes mudanças nos últimos 8 anos. No ano passado, a Rússia começou a providenciar passaportes para os residentes das repúblicas e eles votaram nas eleições russas. As repúblicas ainda perdem sua população, pois muitas pessoas preferem emigrar para a Rússia. A esquerda lá é basicamente uma sombra do KPRF Russo (Gennady Zyoganov´s Partido Comunista da Federação Russa), que a apoia financeiramente e com outras ajudas.

 P.T. Existe alguma chance de que a luta de classes reviva em um país rachado por uma guerra militar causada pelo avanço da OTAN ao Oriente e o confronto iminente com a Rússia?

D.K. Como eu disse antes, uma grande parte dos nossos trabalhadores emigrou, especialmente os mais jovens. Aqueles que ficaram são majoritariamente trabalhadores mais velhos que querem trabalhar até a aposentadoria. Dentro da Ucrânia é difícil encontrar um eletricista ou um motorista atualmente. Ao mesmo tempo, o aparelho do estado sobrevive basicamente pela ajuda do Ocidente. Quando não há mais dinheiro do orçamento público, mais braços, mais vacinas, eletricidade, petróleo, remédios no hospital, papel higiênico para os escritórios, as autoridades pedem aos EUA, Reino Unido, União Europeia e FMI e eles os oferecem em troca do posicionamento anti-Rússia da Ucrânia. Luta de classes em sua forma clássica não produzirá nenhum resultado. Recentemente, os mineradores ucranianos da Ucrânia Ocidental fizeram uma greve por seus salários em atraso. As autoridades das minas estatais disseram a eles: “Vocês ainda estão aqui? Demitam-se! Tem muito emprego na Polônia”. Como consequência, os trabalhadores estão em desespero e não acreditam que têm força. Nossos sindicatos oficiais – que são amarelos – usualmente organizam reuniões para demandar os salários atrasados dos mineiros. Todas as vezes, as autoridades dizem “semana que vem”, e todas as vezes quebram com suas promessas. No entanto, isso é suficiente para os líderes sindicais se inibirem, porque eles estão sendo ameaçados pelas forças de segurança com um processo por “sabotagem” em meio a uma “agressão russa” de oito anos atrás. Os trabalhadores ucranianos podem não se envolver na luta de classes em outros países, onde trabalham. No entanto, no momento, na Ucrânia pode-se ter apenas manifestações e revoltas  espontâneas, devido ao empobrecimento de uma parte substantiva de nossa classe trabalhadora nacional. Este é o prognóstico mais plausível no momento.

Um comentário sobre ““O fascismo ucraniano e o nacionalismo da extrema-direita são políticas impostas pelo Ocidente Europeu”, diz Dmitry Kolalevich

  • 23 de agosto de 2023 at 4:04 pm
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    Pergunte a um ucraniano sobre a rússia durante a época soviética, principalmente na era de stalin.

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