Cineclube Sala Escura no Contrapoder

Cinemas amazônicos em tempos de luta

Foto Original: Maya Dá-Rin/A Febre

O que podem o cinema e o audiovisual – e a pesquisa nessa área – face aos ataques de toda ordem que atingem a região amazônica? Mobilizado pela urgência da situação vivida por povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos da Amazônia, o Cineclube Sala Escura (UFF), em parceria com o Contrapoder e com o Laboratório de Práticas Audiovisuais (UFMG), organiza, ao longo de 2021, uma série de exibições de filmes e debates dedicados aos cinemas amazônicos. A iniciativa, articulada ao dossiê “Cinemas amazônicos em tempos de luta”, organizado por Lúcia Monteiro e Sávio Stoco para a revista eletrônica C-Legenda (UFF), busca chamar atenção para a existência de realizações importantes na região, contrariando a ideia de um vazio demográfico, simbólico e estético, usada como argumento em favor do desmatamento. Para os povos amazônicos, os “tempos de luta” são uma condição tristemente persistente.

Mas o que seriam os “cinemas amazônicos”? A categoria reuniria filmes realizados por diretores nascidos na Amazônia? Ou residentes na região amazônica? Ou ainda aqueles filmados ali? Com mais de 5 milhões de quilômetros quadrados distribuídos por nove países, a bacia hidrográfica estruturada em torno do Rio Amazonas está longe de ser um espaço homogêneo. Este ciclo não pretende definir possíveis limites para essa cinematografia, pelo contrário: seu propósito é mergulhar na heterogeneidade de geografias, histórias e estéticas produzidas no espaço amazônico em sentido amplo.

Como funcionará nosso Cineclube:

  • 100% gratuito;
  • Os filmes ficarão disponíveis para visionamento prévio e os debates sobre os filmes ocorrerão, geralmente, na última quinta-feira de cada mês, no canal do Contrapoder do YouTube;
  • As inscrições estão abertas até o fim do cineclube e não são obrigatórias;
  • Inscrição no final desta página.

Por que se inscrever?

  • Ofereceremos certificado de extensão, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), para cada encontro, aos participantes devidamente inscritos (Por isso necessitaremos do CPF);
  • Caso queira receber os lembretes, mas não deseje o certificado, preencha o CPF com 00000000000;
  • Manteremos total sigilo sobre seus dados e disponibilizaremos apenas para a UFF;
  • Quando inscrito, te enviaremos somente materiais relacionados ao cineclube, como o link para assistir o filme, lembretes dos debates e etc;
  • É uma forma de mantermos um canal de dialogo mais eficaz.

Programação:

Sessão de abertura: A Febre (2019) de Maya Da-Rin

Brasil/França/Alemanha, 98′. Falado em português, tukano e tikuna. Legendas em português.

Justino, um indígena Desana de 45 anos, é vigilante do porto de cargas de Manaus. Enquanto sua filha se prepara para estudar medicina em Brasília, ele é tomado por uma febre misteriosa que o leva de volta a sua aldeia, de onde partiu vinte anos atrás.

Trailer:

Para assistir:

Plataformas onde o filme está disponível: aqui

Debate:

Quinta-feira, 8 de abril, às 20h, com a participação da cineasta Maya Da-Rin, da pesquisadora Naara Fontinele e da professora Lúcia Monteiro (UFF), organizadora do ciclo Cinemas amazônicos em tempos de luta.


Abril: Para ter onde ir (2016), de Jorane Castro

Brasil, 100′. Falado em português

Três mulheres seguem juntas em uma mesma viagem. Eva, mulher madura e pragmática, Melina, uma jovem livre e sem compromisso e Keithylennye, uma ex-dançarina de technobrega. No percurso, acontecimentos e encontros que mudarão seus destinos.

Trailer:

Para assistir:

Plataformas onde o filme está disponível: aqui.

Debate:

Quinta-feira, 29 de abril, às 20h, com a participação da cineasta Jorane Castro e da pesquisadora Izabele Leite.


Sessão cancelada:
Maio: El viento del Ayahuasca (1983), de Nora de Izcue

Peru, 83′. Falado em espanhol

Uma história de amor entre um sociólogo limenho e uma jovem loretana nos submerge no contexto mágico-religioso da Amazônia, com seus seres mitológicos e os xamãs do Ayahuasca, seus ritos e conhecimentos ancestrais

Para assistir:

Debate:

Quinta-feira, 27 de maio, às 20h, com a participação da cineasta Nora de Izcue e da professora Nina Tedesco (UFF)


Junho: Bimi, Shü Ikaya (2018), de Isaka Huni Kuin, Siã Huni Kuin e Zezinho Yube

Brasil, 52′. Falado em português e Hatxa Kuin. Legendas em português.

Bimi tornou-se a primeira mulher indígena Huni Kuin a organizar sua própria aldeia, uma atividade até então exclusiva dos homens. Em sua trajetória de vida, por sua personalidade forte e determinada, enfrentou uma série de dificuldades,  sobretudo devido a questões hierárquicas e tradicionais do povo Huni Kuin, uma sociedade essencialmente patriarcal, resultando na saída de sua terra indígena de origem, culminando na organização de uma nova aldeia, na qual desenvolve vários papéis, dentre eles, pajé de cura, detentora de saberes ancestrais do povo Huni Kuin.

Trailer:

https://www.facebook.com/amazoniadoc/videos/392510404696347

Para assistir:

Disponibilizaremos o filme no dia 17 de junho, uma semana antes do debate.

Debate:

Quinta-feira, 24 de junho, às 20h, com a participação de Isaka Huni Kuin e da professora Beatriz Rodovalho (Universidade de Amiens)


Sessão extra – Julho: Codinome Clemente (2019), de Isa Albuquerque

Brasil, 98′. Falado em português.

Trailer:

Para assistir:

O filme será disponibilizado em nosso canal no youtube no dia 12 de maio.

Debate:

Quinta-feira, 08 de julho, às 20h, com a participação da cineasta Isa Albuquerque, Maria Cláudia Badan Ribeiro e Reinaldo Cardenuto.


Agosto: Uaka (1987), de Paula Gaitán.

Brasil, 79′

O mito de criação do Xingu é tema do primeiro longa-metragem de Paula Gaitán, filme poético que não se conforma às categorias tradicionais de “ficção” ou “documentário”.

Debate:

Quinta-feira, 12 de agosto, às 20h, com participação de Paula Gaitán, María Paula Lorgia e Lúcia Monteiro.


Organizadores

Cineclube Sala Escura

O Cineclube Sala Escura é um projeto de extensão da Plataforma de Reflexão sobre o Audiovisual Latino-Americano (PRALA), vinculado ao Laboratório de Investigação Audiovisual (LIA) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Seu foco é a difusão do(s) cinema(s) latino-americano(s). O Cineclube Sala Escura deve seu nome ao cineclube criado nos anos 1960, ligado ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Nos anos 2000, o professor Tunico Amancio, fomentador dos estudos de cinema latino-americano no Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS), ao propor o Sala Escura como atividade de extensão, propõe, através dele, uma forma de resgate da memória cineclubística da Universidade e símbolo de resistência cultural durante a ditadura militar.
Nossa proposta é pensar o cinema produzido na e sobre a América Latina e, assim, envolver professores e estudantes do Curso de Cinema e Audiovisual da UFF numa ação de engajamento junto a diferentes plateias e, por outro lado, provocar e estimular nesse público o desejo de conhecer outras formas de expressão artística, ausentes, em geral, de nossa indústria cultural tão dinamicamente ligado aos interesses das grandes corporações midiáticas e pela hegemonia da produção estadunidense. Em sua origem, cineclubes são associações sem fins lucrativos, que têm um compromisso cultural e ético, como parte de uma herança histórica que os associa à militância política e cultural, tornando-se, às vezes, em verdadeiros espaços de resistência. O Cineclube Sala Escura busca explorar espaços alternativos para a reflexão sobre o audiovisual e a cultura, em termos gerais. Em 2015, voltamos com sessões no Cine Arte UFF, em Niterói, após a reforma de sua sala de cinema. Mantemos a nossa tradicional sessão na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, prosseguindo uma forte e consolidada relação entre o Curso de Cinema da  UFF e esta importante instituição de memória brasileira. Em 2016, iniciamos exibições periódicas no Instituto de Arte e Comunicação Social, onde se localiza o Curso de Cinema e Audiovisual da UFF, voltadas especificamente para o público acadêmico. 

Laboratório de Práticas Audiovisuais (UFMG)

O Laboratório de Práticas Audiovisuais (LAPA) é um projeto de pesquisa e extensão realizado na Faculdade de Educação da UFMG que investiga o uso do cinema e das práticas audiovisuais na escola pública. Participam dessa iniciativa um coletivo formado por pesquisadores e educadores(as) que atuam em escolas da educação básica localizadas em centros urbanos, comunidades quilombolas e indígenas em Minas Gerais. O grupo parte do entendimento de que o cinema e as práticas audiovisuais – exibição mediada de filmes e oficinas de realização audiovisual – podem oferecer uma interface com o ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira e Indígena. 

Nessa confluência, por meio do cinema e da educação são elaboradas questões étnico-raciais que atravessam o cotidiano das escolas, os processos de aprendizagem e a experiência social. A necessidade de contar outras histórias nos dias de hoje, de expressar de formas diversas a cultura Afro-Brasileira e Indígena e de estabelecer novas formas de diálogo presentes em nossa sociedade indica caminhos que o cinema pode percorrer junto com a educação. 

Essa proposta de interação envolvendo o cinema na escola está relacionada a uma concepção de que a educação é sempre e inevitavelmente intercultural, visto que não há educação fora de uma cultura específica e ao mesmo tempo na relação de equidade com outras culturas. A experiência audiovisual, por sua vez, reúne, por meio da experiência sensível com as imagens, uma comunidade, formada tanto por sujeitos como também por espaços, tempos, artefatos e imagens. Em meio ao processo de realização e de projeção de filmes, essa comunidade tem a chance de reconfigurar seus modos de perceber, de ver, de escutar, de dizer e de atuar. 

Para que essa proposta seja levada adiante, o projeto envolve a formação de professores(as) para o uso do cinema e das práticas audiovisuais na escola pública de educação básica; o uso do cinema e das práticas audiovisuais (exibição e realização de filmes) em escolas públicas municipais de Belo Horizonte e estaduais de Minas Gerais; o intercâmbio entre as experiências realizadas nas instituições parceiras por meio de exibição de filmes realizados ao longo do processo e da interlocução envolvendo, pesquisadores(as), professores(as) e estudantes.

Contrapoder

O Contrapoder é uma plataforma que busca contribuir para a reflexão e difusão de um projeto socialista para o Brasil. O objetivo é construir um polo de aglutinação do debate sobre os problemas dos trabalhadores e suas possíveis soluções que, respeitando a diversidade da esquerda socialista, se transforme num espaço democrático e plural de discussão política e programática das forças políticas e sociais que buscam uma saída construtiva à barbárie capitalista.


Inscrição


Participantes:

Beatriz Rodovalho é doutora em Estudos cinematográficos pela Université Sorbonne Nouvelle Paris 3. Atualmente, é professora assistente (ATER) na Université de Picardie Jules Verne. É programadora do festival Brésil en Mouvements (Paris, França).

Izabele Leite, nascida e criada em Belém do Pará, é estudante de Cinema, Pesquisadora de Audiovisual na Amazônia.

Isaka Huni Kuin nasceu em 1993, no antigo seringal Bonfim na Terra Indígena Kaxinawá do Alto Rio Jordão. Mudou-se com sua família em 1994 para praia do Carapanã onde fez seus estudos básicos na escola regular. Em 2012, participou do Projeto Vídeo nas Aldeias se tornando um realizador cineasta indígena. Em 2013, como presidente dos jovens, iniciou um grupo musical\cultural com mais quinze integrantes indígenas. Realizou três intercâmbios para Europa conhecendo cinco países. Desde então, fez três documentários Cerâmica e Cestaria, Festa da Banana e Ensino das medicinas. Em 2017, realizou o curso de Edição e de Diretor de Fotografia.

Jorane Castro é realizadora de mais de vinte filmes, entre documentários e ficções, filmados na Amazônia Brasileira, no Marrocos, no Mali, na Ilha da Reunião, Moroni, na Ilha de Mayotte (Continente Africano), e na Europa (França e Espanha). Desde 2009, é professora do Bacharelado em Cinema e Audiovisual, Instituto de Ciências das Artes, da Universidade Federal do Pará

Lúcia Monteiro é professora adjunta do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Doutora em estudos cinematográficos pela Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3 e pela Universidade de São Paulo, realizou pesquisa de pós-doutorado sobre filmes de longa duração e sobre os problemas contemporâneos para o conceito de cinematografia nacional.

María Paula Lorgia Garnica é pesquisadora e programadora de cinema. É historiadora formada pela Universidad de los Andes (2008) e mestre em Artes com ênfase em Cinema Documentário pela New School de Nova York (2013). Atualmente trabalha como docente na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidad de los Andes e como programadora da Cinemateca de Bogotá. Nos últimos seis anos, coordenou a programação geral da entidade, assim como as retrospectivas e mostras especiais (Ciclo Rosa, Muestra Afro e CICLA-Cita con el cine latinoamericano).

Maya Da-Rin é cineasta e artista visual, graduada pelo Le Fresnoy, tem mestrado em Cinema e História da Arte na Sorbonne Nouvelle, e cursou oficinas na Escola de Cinema e TV de Cuba. Participou de residências no Centro de Arte LOBoral (Espanha), na Cinéfondation (Festival de Cannes), e no TorinoFilmeLab (Festival de Torino). Seus trabalhos foram exibidos em festivais como Locarno, Toronto, Rotterdam, e em museus e centros de arte como MoMA e New Museum. Seu primeiro longa de ficção como diretora, “A Febre” (2019), teve sua estreia mundial na competição internacional do Festival de Locarno, onde ganhou o Leopardo de Ouro de Melhor Ator, além do prêmio da crítica internacional FIPRESCI e do prêmio do especial do fúri “Enviroment is quality of life”. Até o momento, “A Febre” já foi exibido em mais de sessenta festivais internacionais e ganhou trinta prêmios, incluindo Melhor Filme nos festivais de Brasília, Biarritz, Pingyao, Indie Lisboa e Mar del Plata, e Melhor direção em Chicago e Rio.

Naara Fontinele é pesquisadora, professora, educadora e curadora de cinema. Doutora em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 e em Comunicação Social pela UFMG (cotutela). Desde 2013, atua como educadora de cinema em Paris e em Porto Velho (RO). Foi curadora da Mostra Documentário: invenção de formas/pensamento crítico (1964-1983) no 19º FestCurtasBH e de duas mostras dedicadas ao documentário brasileiro no Festival États généraux du film documentaire (Lussas, França). 

Nina Tedesco é professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Pesquisa cinema latino-americano e mulheres no cinema. Entre suas principais publicações, destaca-se a co-organização do livro Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro (2017). Seu último filme, o longa-metragem À luz delas, é sobre diretoras de fotografia no Brasil.

Nora de Izcue é cineasta, pioneira entre as mulheres do cinema peruano, autora de filmes premiados, como o documentário Runan Caycu (1976), laureado no Festival de Leipzig, na Alemanha. Tem se dedicado a filmar histórias de mulheres em condições de vida precárias, além de participar de diversas organizações para a preservação, a criação e a difusão do audiovisual. É uma das fundadoras da Fundación del Nuevo Cine Latinoamericano e integrante de seu Conselho Superior.

Paula Gaitán: Nascida em Paris em 1954, Paula Gaitán tem nacionalidade colombiana e brasileira. Estudou artes visuais e filosofia na Colômbia. Vive no Brasil desde 1977. Em 1980, realizou a direção de arte do filme A Idade da Terra, de Glauber Rocha, experiência determinante para sua formação cinematográfica. Uaka (1987) é seu primeiro longa- metragem.

3 comentários sobre “Cineclube Sala Escura no Contrapoder

  • 31 de março de 2021 at 5:32 pm
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    Imprensa alternativa é importante

    Reply
  • 1 de abril de 2021 at 2:42 am
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    Excelente iniciativa! Parabéns à toda Equipe. Muitíssimo obrigada!

    Reply
  • 3 de abril de 2021 at 9:31 am
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    Mais uma iniciativa incrível do Contrapoder! Vida longa à plataforma! Abraços!

    Reply

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